A fé é como mergulhar num lago
Outro dia escutei um relato sobre uma cena que me deixou pensativo: eram duas pessoas perto de um lago, conversando.
Uma delas disse:
— “Será se a água do lago está gelada?”
E então a outra respondeu:
— “Você só vai saber se pular.”
No momento em que ouvi isso, não me fez efeito algum. Apenas fiquei com aquilo na minha memória, por algum motivo que eu desconheço.
Mas depois de algum tempo, essa memória aflorou na minha mente e hoje faz total sentido quando penso sobre fé.
Na beira do lago
Eu nasci e cresci em uma família católica cristã. Sempre ia às missas aos domingos, fazia catequese e, na adolescência, até tocava nas celebrações.
Mas nunca me enxerguei de fato como uma pessoa de fé.
Eu me sentia como a pessoa na beira do lago, que se perguntava:
“Será se a água está gelada?”
Eu não havia de fato mergulhado na fé.
Não havia experimentado o que é viver pela fé.
Eu não tinha qualquer relacionamento com Deus.
“Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos.”
— 2 Coríntios 5:7
As minhas orações se limitavam apenas a repetir o Pai Nosso todas as noites antes de dormir. Às vezes eu me atropelava nas palavras, misturava tudo, já quase caindo de sono.
O primeiro mergulho
Meu relacionamento com Deus mudou quando eu resolvi mergulhar no lago.
Mas não foi um mergulho rápido, daqueles que você fecha os olhos e pula.
Foi um mergulho lento e relutante.
Daqueles em que você coloca só a pontinha do pé, sente aquele arrepio que dá vontade de desistir. Depois vai afundando mais um pouco… até que, quando chega na metade do corpo, você conta até três e se joga por completo.
E aí, depois de alguns segundos, você coloca o rosto pra fora e grita:
“Nossa, a água tá ótima!”
Você chega até a achar que tá mais quentinho dentro da água.
Um convite inesperado
Em fevereiro de 2023, minha esposa foi convidada por uma amiga do trabalho para ir a um evento em uma igreja: um curso bíblico gratuito de 6 domingos, chamado “Um com Deus”.
Fiquei relutante. O convite foi como aquele primeiro contato com a água gelada: colocar a pontinha do pé e querer sair correndo.
Mas eu amo minha esposa. E vi que ela estava animada para participar. Resolvi acompanhá-la e tentar ser uma boa companhia.
A sala gelada e o coração aquecido
O dia chegou.
Acordamos cedo e fomos ao local.
Logo na entrada, mesmo com muitas pessoas, tudo era bem organizado. Fomos recebidos por pessoas usando coletes amarelos com as palavras “UM COM DEUS” estampadas em letras garrafais.
Fomos direcionados até a sala. Ela estava gelada — o que é um alívio pra quem mora em Manaus, onde só existem duas estações: calor e mormaço (piada local).
Na sala, cerca de 30 cadeiras organizadas de frente para um quadro. O professor, um homem grande e robusto, veio nos dar as boas-vindas.
Conforme os domingos passavam, eu me interessava mais. Aprendi sobre os fundamentos do cristianismo:
- O que significa religião?
- Por que Jesus veio à Terra?
- Como eu sei se vou pro céu?
- O que é o amor?
Recebi respostas para dúvidas que eu nem sabia que tinha.
Quanto mais eu aprendia, mais eu percebia o quanto ainda havia para aprender.
Mais que um curso
O curso terminou. Seis domingos passaram voando.
Eu queria mais. Minha esposa também.
Nos informamos e descobrimos que haveria novos cursos. Sem pensar duas vezes, eu mergulhei.
À essa altura, eu já estava imerso no lago.
A água já nem parecia gelada. Pelo contrário: eu me sentia melhor ali dentro. Estava mais quente.
Estava fascinado com o aprendizado, e o único arrependimento era:
“Por que não mergulhei antes?”
Um novo relacionamento com Deus
Passei a ter um relacionamento com Deus de forma totalmente nova.
Já não orava apenas antes de dormir. Minhas orações se tornaram conversas com um amigo.
Comecei a orar durante o dia:
antes de decisões, antes de apresentações no trabalho, antes de enfrentar algo difícil.
Minha vida não ficou mais fácil.
Na verdade, ela ficou mais difícil.
Mas agora, eu não estava mais sozinho.
Entreguei meus fardos a Jesus. Vi milagres acontecerem.
Meu casamento, minha vida profissional, minha saúde mental… tudo foi sendo transformado.
Hoje, me sinto um cara rico.
Não rico em bens materiais. Mas rico daquilo que não se pode comprar.
Ainda há dúvidas… mas há fé
Eu ainda tenho dúvidas. Ainda não sei todas as respostas.
Mas eu escolhi acreditar primeiro e ir entendendo à medida que vivo.
Continuo estudando a Bíblia, fazendo meditações diárias, aprofundando-me nas Escrituras.
Algumas coisas só vêm com o tempo, maturidade, experiência e sabedoria.
Talvez eu não entenda tudo nesta vida.
Mas por enquanto…
Eu vivo experimentando a graça de ser filho de Deus.
E não quero sair do lago.

